Formatura no quilombo João Surá

 7 de novembro de 2019 - 14h11

Em 1º de novembro de 2019 foi realizada, no quilombo João Surá – localizado no vale do Ribeira paranaense, região metropolitana de Curitiba-,  a formatura de 31 estudantes da 4º turma do Curso Licenciatura em Educação do Campo (LECampo) do Setor Litoral da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Estavam presentes as/os familiares e amigas/os de formandos da Turma Paulo Freire. E representantes da Secretaria Municipal de Adrianópolis, de direções de colégios da região do Vale do Ribeira paranaense, de professoras e professores do LECampo, do superintendente da Superintendência de Inclusão, Políticas Afirmativas e Diversidade (SIPAD/UFPR) e do diretor do Setor Litoral; que iniciou a Sessão Pública do Conselho Universitário para a colação de grau dos nove quilombolas de João Surá e dos demais licenciados, moradores da região do Ribeira.

As aulas da turma Paulo Freire ocorreram no quilombo João Surá, em regime de alternância. Kelly Cristina de Lima (graduada em Licenciatura em Educação do Campo) contou que a turma iniciou com 80 alunos, em 2016, “alguns ficaram pelo caminho, outros se formarão em outra ocasião”. Ainda, ressaltou que houve trocas e aprendizagens mútuas entre professoras/es e a turma; e para “os povos do campo, povos da água e povos da floresta” o sonho da graduação se realizou juntamente com a família. Por isso, o dia era de vitória, de felicidade e de agradecimentos.

A paraninfa, professora Maria Isabel Farias, relatou sobre as viagens por cerca de sete horas para chegar ao quilombo. Ali, compartilharam de experiências de solidariedade e algumas conflituosas. As salas de aulas, utilizadas para o estudo, transformaram-se em dormitórios. Tal fato contribuiu com as reflexões sobre o processo de ensino e sobre a “realidade da condição do dia a dia”, como exemplifica o trabalho de Paulo Freire, ela disse.

Maria Isabel lembrou que para muitas/os moradoras/es da região foi negado o direito de escrever o próprio nome. A UFPR tem um lugar importante no processo de reconhecimento do direito à formação institucionalizada e ao fazer a colação de grau em um quilombo “tornou-se mais negra e bonita”. O professor Gilson Dahmer também ressaltou o valor das aulas e da formatura no quilombo. Ele falou que a “Educação do Campo pode acontecer em qualquer espaço” e que, com as idas ao quilombo para lecionar, “aprendeu mais do que ensinou”.

O professor Paulo Vinícius Baptista da Silva, superintendente da SIPAD, reafirmou o compromisso da UFPR com a inclusão e com uma sociedade onde tenha lugar os povos do campo, os povos da floresta e os povos das águas. Emocionado, o professor expressou que se sentia honrado por “estar em solo sagrado de um quilombo”. E tanto as aulas da LECampo quanto a formatura terem ocorrido em João Surá, era fundamental para a “construção de um outro Brasil”. Ele explicitou que a UFPR estava mais diversa porque estava mais indígena, mais negra, mais LGBT, mais quilombola.  Em consonância, o diretor do Setor Litoral, professor Renato Bochicchio, ressaltou a luta histórica dos quilombos pelo reconhecimento de seus direitos e deu ênfase ao protagonismo do LECampo. Ainda, enunciou a relevância da presença do superintendente da SIPAD representando a UFPR no evento, e que esta instância “é a consolidação das políticas afirmativas na UFPR.

Foram muitos os agradecimentos naquele dia 1º de novembro. A relevância do trabalho dos motoristas da UFPR para que as aulas ocorressem foi lembrada muitas vezes. As e os servidoras/es professoras/es e técnicas/os, a Pró-reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE), a Pró-reitoria de Administração (PRA), a Assessoria, a Gestão e a Comunicação do Campus Litoral tiveram suas ações reconhecidas; “um coletivo que se envolveu para que tudo acontecesse”, como expressou Bochicchio.

O orador da turma, Luis Camões, homenageou o patrono, professor Lourival Fidélis, em nome de todas/os as/os professoras/es que se esforçaram para que as aulas ocorressem em João Surá. “Estes que não mediram esforços para sair de suas casas e vir ao encontro do quilombo”. Camões citou Paulo Freire: “não há saberes mais, não há saberes menos, há saberes diferentes”. E do pedestal onde estava, voltou-se para a turma onde juntos e repetidas vezes evocaram o “grito de guerra”: Direito nosso, dever do Estado e compromisso da comunidade!

Durante toda a cerimônia algumas/uns estudantes demonstraram muita emoção e enxugavam suas lágrimas, uma expressão da relevância do acontecimento.

P.S.: Saímos de Curitiba às quatro da manhã, eu, Beatriz, Paulo Vinícius e Cleber, o motorista. Chegamos no quilombo passava das oito horas e o local da formatura, uma tenda colocada ao lado da igreja local, dava sinais de que não era um dia comum. As e os estudantes utilizaram as salas de aulas/dormitórios para se prepararem para o momento solene. Passava das dez horas quando a cerimônia iniciou e, após, almoçamos no local.  Retornamos à Curitiba, cientes de que experienciamos um momento único.

Por Judit Gomes
Fonte: SIPAD/UFPR

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